quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Manaus tem mais de 260 incêndios em área de vegetação neste ano

Casos registrados até 21 de setembro equivalem a 86,5% de todo ano de 2014.

Área de mata foi consumida por chamas nesse domingo (20).
Área de mata foi consumida por chamas nesse domingo (20).
O Corpo de Bombeiros registrou, entre janeiro e setembro de 2015, o total de 263 incêndios em áreas de vegetação localizadas em Manaus. O número equivale a 86,5% do contabilizado durante todo o ano de 2014, quando houve 304 incêndios. Não há dados sobre pessoas feridas, ou mortas, por conta dos incêndios. Segundo a corporação, os chamados se intensificam no segundo semestre do ano, durante o 'verão amazônico', período em que são registradas temperaturas superiores a 38º C.
A ação humana lidera a lista de causas das ocorrências, que também impactam negativamente espécies da fauna e flora local. "Além dos problemas à saúde das pessoas, [os incêndios] podem sim trazer problemas sérios para os animais e plantas. Alguns na lista dos ameaçados de extinção", alerta o analista ambiental do Ibama e veterinário, Diogo Lagroteria.
Em entrevista, o tenente do Corpo de Bombeiros, Janderson Lopes, contou que foram registradas 79 ocorrências do tipo em agosto de 2015. No mês seguinte, o número chegou a 76 em 21 dias.
As altas temperaturas do período facilitam a combustão de plantas secas e resíduos jogados em terrenos e áreas de mata, além da propagação das chamas. Restos de cigarro e o ato de queimar lixo, ou folhas secas, podem iniciar incêndios de grandes proporções, alertam bombeiros.
“A ação humana é a principal causa desses incêndios. É preciso sempre fazer a capinagem do terreno, recolhendo o lixo acumulado nos terrenos em sacos e dando o devido destino nos caminhões de coleta. Evitar a todo custo a queima desse material é outra dica”, afirma Lopes.
Segundo Lopes, há um reforço das equipes da corporação nesta época do ano, quando altas temperaturas são registradas na capital.
"Independente do volume de ocorrências de queimadas ainda continuamos a atender todos os outros tipos de ocorrência: corte de árvore, combate a incêndio em residência, salvamento em altura e outros”, explicou. O tenente destacou a necessidade de acionar o Corpo de Bombeiros em todos os tipos de incêndio. Segundo ele, tentar debelar chamas de forma independente apresenta sérios perigos. “No caso de incêndio em vegetação, o maior risco é justamente a proximidade das chamas com residências, principalmente de madeira, ou com postos de gasolina”, contou.
A reportagem flagrou uma das ocorrências na tarde de domingo (21) na Avenida Governador José Lindoso (Av. das Torres). Populares informaram que o incêndio teria sido provocado de forma proposital. Ao todo, 600m² do terreno foram queimados.
"O local estava muito seco, tinha muita fuligem e o vento espalhou o fogo para outras áreas. Nós apagávamos, mas rapidamente voltava a acender", contou o bombeiro Ronibson Pereira. Cerca de 500 litros de água foram usados para apagar o incêndio.
Altas temperaturas
Na tarde da segunda-feira (21), Manaus registrou alta no recorde na temperatura do ar. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura registrada na estação automática foi de 38,9°C, com sensação térmica de 39,3°C . No dia 13 deste mês, a temperatura do ar na capital chegou a 38,6° C.
Segundo o instituto, o forte calor deve permanecer na capital amazonense até o mês de novembro, quando deve começar a chover de forma mais significativa. A previsão é que a sensação térmica - ou índice de calor - chegue a 40°C nos próximos dias.
Danos ao meio ambiente
Além de causar perigos para a população da capital, as queimadas em áreas verdes podem gerar até mesmo a morte de espécies ameaçadas de extinção. Como é o caso do sauim-de-coleira, que é endêmico do Amazonas - só encontrado em Manaus e municípios vizinhos.
"Em Manaus, temos diversos fragmentos que têm espécies ameaçadas. O caso mais clássico é o sauim-de-coleira, que está em vários fragmentos. Um incêndio florestal nesse fragmento pode sim colocar em risco a espécie", afirma analista ambiental do Ibama e veterinário, Diogo Lagroteria.
Segundo o veterinário, os danos podem ser diretos ou indiretos. "Os incêndios florestais podem afetar as população de animais e os vegetais que ocorrem nesses fragmentos. Muitas vezes não diretamente, apesar que pode acontecer dos animais ficarem ilhados e acabarem não conseguindo escapar do incêndio em si, mas muitas vezes pode acontecer problemas secundários. Por exemplo, quando uma área começa a queimar, os animais começam a fugir e nessa fuga pode ter problema. O bicho pode ser atropelado, pode acabar indo para uma área que ele não vai se adaptar. Tem a questão da área queimada deixar de oferecer as condições adequadas para aquela espécie. Vai ter menos fruta, menos área de abrigo. São problemas secundários decorrentes do fogo", disse Lagroteria.
Lagroteria diz ainda que o Ibama recebe animais feridos em incêndios. "Existem outros animais que são mais suscetíveis. Uma preguiça não vai conseguir se deslocar a tempo de fugir do incêndio florestal, por isso que é muito comum a gente receber preguiça queimada no Cetas [Centro de Triagem de Animais Silvestre] é o grupo de animais que mais recebemos vindos de fragmentos que estão queimados. Outros que são comuns são tamanduás, cutias e muitas vezes algumas aves", explica o veterinário.
Fonte: G1

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