domingo, 28 de fevereiro de 2016

Fibria terá primeiro viveiro automatizado de mudas de eucalipto do mundo na unidade de Três Lagoas (MS)

Robôs e imagens 3D serão ferramentas utilizadas no mais moderno viveiro da indústria florestal

Fibria - Visita de Familiares (2)A Fibria, empresa brasileira de base florestal e líder mundial na produção de celulose de eucalipto, vai implantar um novo viveiro em sua unidade de Três Lagoas (MS), que contará com aplicação de tecnologias holandesas de última geração para a automação de todo o processo de produção de mudas de eucalipto, iniciativa inédita no setor.
A Fibria será a primeira empresa da área de celulose a utilizar robôs para plantar mudas de eucalipto. Essa é a primeira etapa do processo que, no modo convencional, é realizada manualmente. A automação vai evitar perdas e preservar a integridade das mudas. O novo viveiro também segue conceitos de sustentabilidade, redução de resíduos e de impacto ambiental, com a substituição dos antigos tubetes de plástico das bandejas de produção de mudas por materiais mais modernos, feitos de papel biodegradável. As novas instalações irão ocupar, aproximadamente, 48 mil m² de estufas, com automação nos processos de transporte, manuseio, seleção, irrigação, nutrição e controle meteorológico.
Já na segunda etapa, na qual é realizada a seleção das mudas para acomodá-las em espaço adequado ao seu crescimento, o novo sistema de máquinas do viveiro, com visão 3D, vai monitorar a evolução das mudas e gerar eficiência no cultivo das plantas.  Dessa forma, o novo equipamento fornecerá estatísticas de material genético e do desenvolvimento de cada planta que garantirão à Fibria maior controle de qualidade das mudas que serão plantadas no campo.
“Teremos um viveiro de vanguarda, com altíssimo nível de precisão, de sistemas e de controles ambientais, que garantirão uma melhor performance para o padrão de mudas da Fibria. Melhores mudas são a base para termos melhores florestas”, afirma Aires Galhardo, diretor executivo Florestal da Fibria.
Além da otimização das atividades dentro do viveiro, o uso da nova tecnologia apresentará melhorias também para os operadores. “O novo método trará benefícios ergonômicos para os trabalhadores. Outra novidade é o controle de irrigação e clima, que será realizado por meio de painéis automatizados. É a tecnologia trazendo benefício para o processo e qualidade de vida para o empregado”, diz Tomás Balistiero, gerente geral Florestal da Fibria no Mato Grosso do Sul.
A expectativa é que a implantação do novo viveiro seja iniciada em março de 2016 e que a operação ocorra em março de 2017, com uma capacidade de produção de 43 milhões de mudas de eucalipto por ano. As mudas serão destinadas ao plantio e formação das florestas que abastecerão a unidade da Fibria em Três Lagoas e o Projeto Horizonte 2, segunda linha de produção de celulose da empresa no município, que entrará em operação no último trimestre de 2017.
Parcerias
A implantação do novo viveiro da Fibria acontece por meio do consórcio Hortikey Holandês, que desenvolve projetos de automação em grande escala para empresas do mercado internacional. O consórcio é formado pelas principais empresas do setor como Agri-tech Aris, Berg Hortimotive, Bosman Van Zaal e Sistemas de Flier, além da brasileira Methodo Ferramentaria, que fornece suporte para normas locais, regras e regulamentos das leis brasileiras; e da Açopema, que fornecerá as estufas.
As obras do Projeto Horizonte 2 começaram em 2015 e seguem dentro do cronograma. Com investimento de R$ 8,7 bilhões (equivalente a cerca de US$ 2,2 bilhões), o projeto de expansão da Fibria vai gerar ao longo das obras 40 mil empregos e, ao final do projeto, 3 mil postos de trabalho diretos e indiretos. A Unidade de Três Lagoas terá sua capacidade de produção aumentada em 1,75 milhão de toneladas de celulose/ano. Com a ampliação, a unidade da Fibria em Três Lagoas somará capacidade de 3,05 milhões de toneladas de celulose/ano, passando a ser uma das maiores fábricas de produção de celulose no mundo.
Fonte: CeluloseOnline

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Hidrelétricas no Tapajós concentram desmatamento amazônico de 5 anos

De acordo com pesquisadora do IPAM, retirada de cobertura florestal seria de 22 mil km2 a 32 mil km2 em 2030. Caso as áreas protegidas não existissem, o desmatamento chegaria a 46 mil km2

A pesquisadora do Ipam Ane Alencar participou, na sexta-feira (29), em Santarém (PA), de uma audiência pública sobre a construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós, no rio de mesmo nome, cujo licenciamento é previsto para 2016. Ela apresentou resultados de uma projeção de desmatamento na região decorrente da construção das hidrelétricas na bacia do Tapajós previstas no Plano Decenal de Energia 2014.
Foto: Marcelo Salazar/ISA
Rio Tapajós. Foto: Marcelo Salazar/ISA
Segundo o estudo, a retirada de cobertura florestal seria de 22 mil a 32 mil quilômetros quadrados em 2030, devido ao crescimento populacional repentino associado à obra, à abertura de novas estradas e à especulação imobiliária. Caso as áreas protegidas não existissem na região, o desmatamento seria ainda maior, chegando a 46 mil km2.
A pesquisa também oferece um retrato da região: a bacia do Tapajós tem hoje 59% de seus 105 mil km2 com florestas. Unidades de conservação e terras indígenas contemplam 48% da área da bacia, propriedades particulares, 26%, assentamentos, 6% e 20% são terras do governo ou sem destinação.
“Entre o melhor e o pior cenários, nos próximos 15 anos, temos desmatamento equivalente ao registrado em toda a Amazônia ao longo de cinco anos apenas nesta região”, afirma Alencar. Atualmente, o desmatamento anual na Amazônia gira em torno de 5 mil km2. “Grande parte da área de influência tem áreas protegidas, mas mesmo assim a projeção é de grande retirada de cobertura florestal.”
O estudo indica que, para evitar o pior cenário para a floresta, é preciso destinar as terras públicas devolutas, finalizar o Cadastro Ambiental Rural das propriedades e assentamentos, consolidar as áreas protegidas para que sirvam de barreira ao desmatamento e construir um processo de planejamento que envolva todos os atores impactados – representados na audiência.
Há também uma avaliação que, segundo especialistas em energia ouvidos na reunião, não ecoa no governo: a real necessidade do empreendimento.
Os planos de desenvolvimento hidrelétrico no rio Tapajós e três afluentes, Teles Pires, Juruena e Jamaxim, incluem 43 barragens com potência superior a 30 MW, das quais dez são consideradas prioritárias para o governo federal. Além da produção de energia, elas compõem um mosaico com hidrovias formuladas para escoar a produção agrícola.
De acordo com o professor Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, “o Brasil não precisa de usinas no Tapajós”. Bermann defende que, antes de novos investimentos em hidroeletricidade na Amazônia, investimentos em manutenção da rede elétrica brasileira e investimentos em ouras fontes renováveis, como sol e vento, devem ser exploradas.
Impactados
A audiência de Santarém reuniu mais de 500 pessoas, porém nenhum representante do governo ou das empresas interessadas apareceram. “De nove empresas interessadas na construção de São Luiz do Tapajós, oito são empreiteiras investigadas na operação Lava Jato”, disse o procurador Camões Boaventura.
Em compensação, povos indígenas afetados pelos projetos, como os mundurukus e arapiuns, estiveram na reunião. Eles denunciam que desde setembro de 2014 nenhuma reunião sobre o assunto foi feita entre os indígenas e o governo
O projeto já enfrenta pelo menos quatro menos processos judiciais. Um deles, por não ter respeitado o direito de consulta prévia, previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), já tem decisão do Superior Tribunal de Justiça que obriga o governo a fazer a consulta. (Ipam/ #Envolverde)
Fonte: Ipam.

É possível zerar o desmatamento na Amazônia brasileira? artigo de Paulo Moutinho

desmatamento embargado no Pará

Sim – se assegurarmos que o crescimento econômico, a justiça social e a agricultura são parte do quadro.
De 2005 a 2014, a taxa de desmatamento da floresta amazônica foi de 19.014 quilômetros quadrados para 5.012 km2: uma redução de cerca de 70%. É impressionante, mas a taxa ainda permanece alta. Além disso, quando os efeitos do desmatamento são combinados às mudanças no clima, a tendência em curto prazo é de degradação severa da Amazônia. É urgente que o desmatamento ainda corrente na região cesse completamente, a fim de interrompermos esse processo de empobrecimento biológico.
O desmatamento zero é vital para a manutenção dos serviços ambientais que a Amazônia gera: fornecimento de água, regulação climática, estoque de carbono, polinização, biodiversidade, controle natural de pestes, beleza cênica, turismo e muito mais. A floresta tem uma importante função em manter a chuva além das fronteiras da região amazônica: o vapor do Oceano Atlântico que chega ali é reciclado na floresta e é responsável pela chuva fora da bacia amazônica. E as florestas ainda atuam como um imenso ar condicionado para a região, cumprindo um importante papel na manutenção das temperaturas na área.
O governo brasileiro recentemente submeteu às negociações climáticas que culminaram na COP 21 sua intenção de reduzir 37% da emissão nacional de gases estufa até 2025, e 43% até 2030. As principais ações propostas são zerar o desmatamento ilegal até 2030, restaurar 12 milhões de hectares de floresta e recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas.
Ainda que essas ações sejam necessárias, o prazo proposto não é adequado. Secas severas nos últimos dez anos já causaram muitas alterações na Amazônia, como mortalidade de árvores, mudanças no padrão de chuvas e erosão do solo. Simplesmente não podemos esperar até 2030 para parar o desmatamento, legal ou ilegal.
O que seria necessário para zerar o desmatamento antes de 2025? O governo brasileiro deve lidar com as ameaças históricas que impulsionam a derrubada na região. O Programa de Aceleração do Crescimento, um plano para expansão da infraestrutura, e a crescente demanda nacional e internacional por carne e grãos continuam a ser ameaças importantes aos avanços conquistados pelo Brasil contra o desmatamento na Amazônia.
Para superar essas ameaçadas, o país deve primeiro impor protocolos ambientais robustos a qualquer investimento em infraestrutura. Segundo, mecanismos que promovam a participação da sociedade civil em decisões a respeito desses projetos devem ser melhorados – inclusive respeitando a história e a preservação da cultura de mais de 450 mil indígenas na Amazônia. Terceiro, os 80 milhões de hectares de terras devolutas na Amazônia devem ser definidas como áreas de conservação.
Contudo, nenhum desses protocolos foi ainda adotado pelo governo brasileiro, e a participação na mitigação de impactos de projetos de infraestrutura ainda é limitado.
Uma estratégia que foi implantada é a aplicação de um instrumento legal conhecido como Cadastro Ambiental Rural (CAR), um sistema de registro de propriedades rurais que mostra a quem elas pertencem e seus limites. Ele permite o monitoramento dessas áreas na Amazônia e é uma ferramenta importante para prevenir o desmatamento ilegal.
Porém, para realmente proteger a floresta e os serviços que ela fornece, o CAR não é suficiente, nem o objetivo apresentado pelo governo brasileiro na COP 21. O desmatamento zero antes de 2025 é possível, e nós sabemos o que é necessário para obtê-lo. O governo brasileiro deve estabelecer metas mais ambiciosas e, ainda mais importante, partir para um novo paradigma, no qual crescimento econômico, justiça social e agricultura não são considerados itens separados da manutenção florestal e dos serviços ambientais.
*Esse artigo foi originalmente publicado na revista eletrônica “Ensia”, em parceria com a revista acadêmica “Elementa”. Ele integra a edição especial “A extinção do desmatamento na Amazônia brasileira: é possível?”, editada pelo autor do artigo.
Por Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM*
Fonte: IPAM
Publicado em fevereiro 5, 2016 por 

Repensando as estratégias de propriedade de terras e de plantios florestais

Em meados da década de 1970, os proprietários de florestas plantadas em países como Chile ou Brasil eram, em sua maioria, players industriais: empresas de celulose, painéis de madeira e serrarias. Isso era natural, uma vez que, por um lado, a terra era barata, e por outro, era difícil convencer os produtores rurais locais de que o plantio de árvores poderia ser um negócio viável.

A forma de pensar desses produtores e da indústria evoluiu – agricultores e investidores institucionais entenderam que o plantio de florestas pode complementar a renda agrícola e trazer interessantes retornos financeiros aos seus investimentos.

Recentemente, a indústria tem observado um aumento crescente de produtores florestais independentes – hoje eles respondem por 35% dos plantios florestais, ou cerca de 2,5 milhões de hectares de florestas plantadas comercialmente no Brasil.

A madeira produzida em plantações comerciais continuará a ganhar participação de mercado sobre a madeira proveniente de florestas nativas. No entanto, a vantagem competitiva das plantações está diminuindo e, na pior das hipóteses, poderá até mesmo desaparecer, a menos que os produtores florestais empreguem grande esforço na melhoria da gestão, da produtividade florestal e na identificação de oportunidades futuras de redução de custos. O aumento dos custos nas economias emergentes, principalmente a participação relativa do custo da mão de obra, deve ser visto como um catalisador para a “reinvenção” das florestas plantadas.

Árvores, plantações e gestores da era digital irão melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas – árvores e outras culturas formam o elemento central de uma economia inovadora de base biológica – a “bio-economy”, conforme já é denominada em inglês.

A Pöyry Management Consulting, com sua comprovada experiência em operações florestais, alia um profundo entendimento de toda a cadeia de valor dos produtos de base florestal para acompanhar detalhadamente o que este mercado tem a oferecer.

Nos últimos anos, nossas equipes globais de especialistas, de variados campos, têm fornecido soluções inovadoras para empresas de base florestal. Alguns dos resultados relacionam-se à melhoria de práticas de manejo, aproveitando oportunidades mais imediatas via promoção da excelência operacional e de melhores formas de gestão. Nossos profissionais têm proporcionado soluções via inovações tecnológicas, garantindo que essas inovações disruptivas efetivamente agreguem valor a proprietários e operadores florestais. Nós inventamos hoje a as plantações florestais do futuro!

Por Jefferson Mendes é diretor da Consultoria em Negócios Florestais da Pöyry

A força do setor florestal para energia com biomassa

Indústrias de móveis, serrarias, beneficiamento de madeira geram milhares de toneladas de resíduos diariamente em todo o país.

A força do setor florestal para energia com biomassaA biomassa de origem florestal, é uma forma de energia limpa, renovável, equilibrada com o meio ambiente rural e urbano, geradora de empregos e criadora de tecnologia própria.

Além disso, permite a sua utilização como fonte alternativa de energia, seja pela queima de cavacos, ou com produtos de valor agregado com os briquetes e pellets.

O uso da biomassa florestal para a geração de energia apresenta algumas vantagens como baixo custo de aquisição, não emite dióxido de enxofre, as cinzas são menos agressivas ao meio ambiente que as provenientes dos combustíveis fósseis, menor corrosão dos equipamentos, menor risco ambiental e é um recurso renovável.

Empresas e indústrias tem usado a biomassa florestal como principal fonte para geração de energia. Um bom exemplo são indústrias de papel e celulose que utilizam os cavacos de madeira para gerar energia, sendo muitas destas empresas, alto sustentável quanto ao consumo de energia. BUNGE, CARGIL, HEINEKEN, MASISA, entre muitas outras, também tem utilizado esta fonte renovável.
O potencial de crescimento do setor no Brasil é muito grande. 

As florestas energéticas também viraram opção de investimento para muitos empresários.

As florestas energéticas reúnem vantagens comparativas naturais e significativas para o Brasil que tem condições de produzir, dependendo de condições tecnológicas e regiões do país, entre 250000 e 300000 quilocalorias de energia química potencial de florestas por hectare/dia, que é uma produção extraordinária. Isto se deve, basicamente, as condições edafo-climáticas e a tecnologia oriunda da prática da engenharia florestal brasileira.

A tecnologia e a inovação na implantação de florestas comerciais têm colocado o Brasil em destaque no mundo pela alta produtividade e custos competitivos que são vantagens comparativas decisivas para o negócio florestal. Todavia, há aspectos que precisam ser sanados ou melhorados como a concentração de plantios em poucas espécies o que gera necessidade da busca para introdução de outras espécies competitivas do ponto de vista florestal; a formulação de uma política florestal para melhorar a estabilidade e o desenvolvimento do setor visando atender o mercado interno e externo, as peculiaridades regionais de um país muito grande e a conciliação dos problemas ambientais e sociais brasileiros.

Fonte: Biomassa BR

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Árvore madeireira amazônica pode fixar nitrogênio no solo

Pesquisa recomenda bactérias eficientes para a fixação biológica de nitrogênio (FBN) em pau-rainha (Centrolobium paraense Tul.), árvore nativa do Estado de Roraima indicada para evitar erosão, com bom potencial para exploração madeireira e com capacidade de fixar nitrogênio, economizando adubação e melhorando a qualidade do solo. O trabalho inclui o desenvolvimento de protocolo para produção de mudas, etapa importante já que a planta poderá ser incluída em programas de recuperação de áreas desmatadas da região Norte, atendendo o novo Código Florestal Brasileiro. 
 
Arquivo Embrapa -
Foto: Arquivo Embrapa
A FBN é um processo realizado por bactérias capazes de capturar o nitrogênio que está presente no ar na forma de um gás (N2) e transformá-lo em amônia (NH3), permitindo que a planta assimile o nitrogênio, elemento essencial ao desenvolvimento vegetal. A aquisição desse importante macronutriente pelas plantas pode ser por meio de adubação, pelo uso de matéria orgânica do solo e pela fixação biológica
 
O pau-rainha é uma leguminosa arbórea que se beneficia do processo de FBN através da simbiose com bactérias conhecidas como rizóbios, relação que está sendo estudada por pesquisadores da Embrapa desde 2010.
 
Os estudos revelaram uma grande diversidade de bactérias que realizam esse processo e foram isolados 178 rizóbios oriundos de diversas regiões do Estado de Roraima. Esses microrganismos foram identificados e foi encontrada, entre eles, uma nova espécie do gênero Bradyrhizobium nomeada Bradyrhizobium neotropicale, que tornou-se a primeira bactéria desse gênero nativo do Brasil.
 
Conhecer a diversidade de bactérias associadas ao pau-rainha facilitará a produção de mudas e a utilização dessa leguminosa em manejos sustentáveis e programas de recuperação de áreas nativas desmatadas, sem a introdução de espécies exóticas na região, explica a pesquisadora da Embrapa Roraima Krisle da Silva. 
 
A cientista é uma das coordenadoras da pesquisa e já está trabalhando na propagação de mudas de pau-rainha em viveiro, inoculadas com bactérias eficientes no processo de FBN. Essa etapa é uma exigência do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a indicação de inoculantes comerciais para a planta.
 
A pesquisa também buscou avaliar a eficiência dessas bactérias, visando a encontrar os rizóbios que mais contribuem com o fornecimento de nitrogênio para o pau-rainha. Segundo Krisle, a maioria das bactérias nodulantes descritas foi isolada a partir de leguminosas de grande interesse agrícola, como a soja e o feijão-caupi, mas ainda há poucos estudos sobre leguminosas arbóreas e sua interação com bactérias fixadoras de nitrogênio. 
 
Além da possibilidade de exploração sustentável e de utilização para recuperação ambiental, a pesquisa se concentrou no pau-rainha por ser uma espécie ameaçada pela exploração madeireira. "É uma pesquisa que ajudará na preservação dessa leguminosa arbórea e dos microrganismos presentes nela, além de ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira, principalmente em relação aos microrganismos do solo", ressalta Krisle. 
 
Bactérias selecionadas 
 
A pesquisa tem o objetivo de selecionar rizóbios eficientes na atividade de fixação biológica de nitrogênio para a produção de mudas. As etapas da pesquisa envolveram coletas em ilhas de mata do Estado de Roraima de raízes de pau-rainha para obtenção dos nódulos e posterior isolamento das bactérias em meio de cultura. 
 
De um total de 355 nódulos selecionados, foram isolados 178 rizóbios. Desses, com base em informações obtidas após a caracterização fenotípica, genética e capacidade de nodulação (a capacidade de realmente fixar nitrogênio), 18 foram selecionados para os testes em mudas de pau-rainha. No primeiro teste, em casa de vegetação, quatro bactérias se destacaram na produção de mudas de pau-rainha, entre elas a espécieBradyrhizobium neotropicale.
 
Os testes com as quatros bactérias foram realizadas novamente, mas na produção de mudas em viveiro. A etapa de testes em viveiro é importante  para a recomendação desses rizóbios como  inoculantes, o  que promoverá  maior eficiência na produção de mudas. Além dos testes em viveiro, as mudas inoculadas com essas estirpes serão avaliadas em condições de campo, o que ocorrerá em maio de 2016. 
 
Segundo a técnica de laboratório da Embrapa Roraima Eliane Cunha, essas quatro bactérias já foram incluídas na Coleção de Microrganismos Multifuncionais da Embrapa em Roraima. Eliane lembra que este tipo de pesquisa é bastante complexa e leva muito tempo. "Já estamos na fase de testes em viveiros, uma alternativa para propagar o pau-rainha e integrá-lo em programas de reflorestamento. Também já foram publicados dois artigos científicos que descreveram as bactérias eficientes na fixação biológica de nitrogênio e também a descrição da nova espécie", explica.
 
O pau-rainha
 
O plantio do pau-rainha pode gerar uma série de produtos e serviços viáveis para exploração econômica. A leguminosa pode alcançar até 30 metros de altura e é adaptada a pouca chuva e solos pobres. É encontrada no Panamá, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e norte do Brasil, onde está presente em ilhas de mata e em florestas de transição no Estado de Roraima.
 
A planta exerce diversas funções ecológicas que contribuem para a sustentabilidade do ambiente. Isso porque o pau-rainha, ao realizar a simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio, transfere parte desse nitrogênio para o solo por meio da deposição de suas folhas, melhorando a fertilidade nessas áreas, o que beneficia outras plantas.
 
Ela também tem função protetora contra os efeitos erosivos, sendo frequentemente estudada em programas de reflorestamento ou recuperação de áreas degradadas em virtude da agilidade em promover a sucessão vegetal.
 
Além da importância ecológica, o pau-rainha também tem um alto potencial madeireiro e é geralmente usado na construção de habitações e também como lenha. Além disso, é empregado na fabricação de móveis, vigas, caibros, escadas, pisos, e para fins medicinais e extração de corante.
 
Entenda a FBN
 
O nitrogênio é um dos elementos mais importantes para o crescimento vegetal. É fornecido às plantas por meio de grupos bacterianos em um processo conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN). 
 
Dentre essas bactérias, as mais utilizadas são os rizóbios, que se associam de forma específica a plantas leguminosas. Esses microrganismos colonizam raízes com a formação de estruturas denominadas de nódulos, que conseguem captar o nitrogênio do ar e disponibilizá-lo às plantas. Esta interação é particularmente importante nos estágios iniciais de desenvolvimento vegetal. 
 
Entre as vantagens trazidas pelo uso da FBN está a redução de investimentos em adubação nitrogenada, o que representa uma economia anual de U$ 6,6 bilhões só no Brasil. Além disso, é uma tecnologia agrícola sustentável que ajuda a diminuir a contaminação de recursos hídricos e a emissão de gases do efeito estufa.

Fonte: Embrapa